Cirurgia de catarata: quanto mais cedo, melhor

Não é preciso esperar a condição evoluir, o procedimento é seguro e tem excelentes resultados.

Por: Mariana Lourenço

Todos os anos, o Brasil registra em média 120 mil novos casos de catarata. A doença é a causa mais comum de cegueira reversível – 769 mil brasileiros já perderam a visão por conta dela. O dado chama a atenção porque a cegueira por catarata é evitável, basta uma cirurgia para que o paciente volte a enxergar perfeitamente: “As técnicas cirúrgicas na oftalmologia evoluíram muito nos últimos anos. Antes o cristalino era retirado inteiro de dentro do olho, necessitando de uma incisão grande para sua extração e para o implante da lente intraocular”, explica o Dr. Juliano Pereira (CRM – 11391| RQE -10118), cirurgião oftalmologista do Hospital Oftalmológico de Anápolis (HOA).

Números do Departamento de Alta e Média Complexidade da Secretaria de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde revelam que dentre as principais causas de cegueira que acometem os idosos, a catarata é responsável por cerca de 47% dos casos no Brasil. São realizados em média, 480 mil procedimentos por ano, enquanto seriam necessárias 580 mil cirurgias de catarata. De fato, esses números ainda representam um grande desafio social para o Brasil.

Um levantamento do DATASUS indica que, ao contrário de crendices, a catarata não aparece somente em idosos – 17% dos casos analisados pela pesquisa eram em pessoas entre 55 e 65 anos. Há, ainda, a catarata congênita, que responde por 40% dos casos de cegueira na infância. “Por isso cada vez mais estamos operando cataratas incipientes”, completa o Dr. Juliano. São casos em que, apesar do diagnóstico, a doença ainda não afeta significativamente a visão do paciente. E aí vale a máxima: quanto antes o problema for resolvido, melhor.

O Hospital Oftalmológico de Anápolis realizou em 2020 e 2021, 1.770 procedimentos de catarata e entre janeiro a abril de 2022 já realizamos 322 cirurgias de catarata.

A cirurgia de catarata é indicada a partir do momento em que o paciente percebe que já não desfruta de uma visão adequada para realizar suas tarefas de forma segura. “A acuidade visual pode ser medida de duas maneiras: a quantidade, se a pessoa consegue enxergar 100% e qualidade. Muitas vezes o paciente consegue enxergar 100% mas qualidade dessa visão não é boa. Ele enxerga pior na penumbra, a visão oscila entre o período da manhã e de noite, melhora quando coloca óculos, quando o paciente necessita de corrigir a visão por meio da refração, mas essa melhora pode ser ainda insuficiente. Por meio dessas e de outras avaliações é indicado a cirurgia de catarata. Mas isso varia muito entre a opinião médica”.

Como é o procedimento?

A cirurgia é feita sem cortes e as lentes entram com injetores por meio de uma minúscula incisão, sem necessidade de pontos. O procedimento pode durar de 8 minutos a uma hora, isso varia de paciente para paciente. E o melhor: pode (e deve) ser feita o quanto antes, assim que o paciente tem o diagnóstico do oftalmologista.

O procedimento tem a finalidade de fazer a substituição do cristalino opaco, que é uma lente natural, por uma lente artificial. “Essa substituição é realizada porque o cristalino opaco já não permite que a luz entre dentro do olho formando uma imagem com nitidez, então é realizado a substituição do cristalino opaco por uma lente nova, artificial e transparente”, conta o Dr. Juliano.

Para realizar o procedimento o olho é anestesiado, e o paciente pode ser submetido a dois tipos anestesia: a tópica e a pôr bloqueio peribulbar.

Tópica: é realizada por colírio anestésico e no início da cirurgia é introduzido anestésico dentro da câmara anterior, que é o espaço compreendido entre a córnea e a capsula do cristalino. Para que a sensibilidade de dor seja amenizada durante a cirurgia.

Bloqueio peribulbar: o anestesista quem aplica, e é por meio de uma agulha que introduz o anestésico na região peribulbar ao redor do globo ocular. Essa introdução do anestésico pode ser feita inferior e superior ao globo ocular. E é realizada antes que o paciente deite na maca para fazer a cirurgia. Neste tipo de anestesia o paciente não sente nenhum incômodo, nem desconforto de passar pelo processo de introduzir uma agulha com aproximadamente 2cm que é introduzida na pele ao redor do olho para anestesiar o globo ocular.

Dr. Juliano explica que a cirurgia de catarata por facoemulsificação é realizada por meio da utilização de uma caneta ultrassônica a qual é introduzida no olho por uma pequena abertura de aproximadamente 2.5 mm. “A energia ultrassônica possibilita a destruição e aspiração do cristalino opaco (catarata). A caneta que é ligada ao aparelho ela por um material em seu interior chamado ‘íon piso elétrico’, quando você ativa o aparelho, por meio da energia gerada, ele promove uma onda eletromagnética dentro da caneta que tem a capacidade de quebrar o núcleo do cristalino.”

Procedimento personalizado

Como reflexo destes avanços, nos dias de hoje, tanto faz se a catarata afeta apenas um dos olhos ou ambos, se a doença está em diferentes estágios de maturação nos dois olhos, pois os implantes corrigem este problema. Hoje, para tratar a catarata, o oftalmologista precisa fazer um minucioso estudo sobre a vida do paciente, a terapêutica é personalizada.

Segundo o oftalmologista é preciso planejar a cirurgia de catarata individualmente. A acuidade visual é devolvida ao paciente de acordo com o seu estilo de vida. “Para um paciente portador de catarata que não desenvolve rotineiramente atividades de cunho intelectual, oferecemos uma solução, um tipo de implante ocular, após a remoção da catarata. Para outro que necessita dirigir à noite e ainda mantém um ritmo de trabalho intenso com uso do computador, pensamos em outro tipo de implante”, explica o médico.

A cirurgia de catarata, que antes se restringia a devolver a ‘visão possível’ aos pacientes, hoje, evoluiu para se tornar um procedimento que tenta libertá-los também do uso de óculos após a cirurgia, o procedimento é conhecido como foco refrativo. “Procuramos restaurar a visão com o implante das mais diversas lentes intraoculares, se possível de imediato, e sem necessidade de lentes oftálmicas após a cirurgia”, afirma Juliano Pereira.

É possível fazer cirurgias de catarata com alta tecnologia e equipe especializada: “Com o procedimento atual que é a facoemulsificação, a segurança é muito maior, o objetivo, além de retirar o cristalino envelhecido, é deixar o paciente menos dependente do uso de óculos; com lentes intraoculares que trazem visão para longe, intermediário e perto”, comenta o Dr. Juliano.